Estado nutricional e consumo alimentar de trabalhadores noturnos do setor de nutrição de um hospital de Porto Alegre, Rio Grande do Sul

Autores

  • Daniele dos Santos Cardozo Grupo Hospitalar Conceição
  • Assiane Winck Schultz Grupo Hospitalar Conceição
  • Ana Beatriz Cauduro Harb Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

DOI:

https://doi.org/10.29327/269776.2.4-5

Palavras-chave:

Estado Nutricional, Consumo de Alimentos, Ritmo Circadiano, Relógios Biológicos, Trabalhadores

Resumo

Introdução: A sociedade contemporânea organiza suas atividades predominantemente em torno do ciclo diurno, sincronizado com o ritmo circadiano humano. No entanto, a crescente demanda por serviços 24 horas tem levado à proliferação de jornadas de trabalho noturnas. Essa inversão dos ciclos de sono e vigília impõe desafios significativos ao organismo, interferindo no funcionamento fisiológico e comprometendo a qualidade de vida dos trabalhadores. Objetivo: Identificar o estado nutricional e analisar o consumo alimentar de trabalhadores noturnos. Metodologia: A população do estudo foi composta pelos 26 funcionários do Serviço de Nutrição e Dietética (SND) do turno da noite de um hospital de Porto Alegre/RS. Uma entrevista foi realizada para investigar as condições de saúde, características sociodemográficas, qualidade do sono e consumo alimentar. Resultados: O Índice de Massa Corporal médio foi de 28,7 (±6,1) kg/m² e a maioria dos participantes apresentou sobrepeso ou obesidade (57,6%). Além disto apresentaram qualidade de sono comprometida e hábitos alimentares inadequados, especialmente em relação ao consumo de carboidratos. A maior parte era do sexo feminino (88,5%), idade entre 18 a 60 anos, tempo de trabalho noturno entre 5 a 15 anos, 53,85% com ensino médio completo, 57,7% não praticava exercícios e 61,5% considerou a qualidade do sono entre ruim e razoável. Uma pequena diferença de ganho de peso (1,6 (±4,5) kg) foi encontrada entre a coleta e o início do trabalho noturno (p=0,076). Foi encontrada associação entre o consumo de carboidratos e a obesidade, sugerindo a necessidade de intervenções nutricionais específicas para este grupo profissional. Conclusão: Trabalhadores noturnos do setor de nutrição apresentam maior prevalência de sobrepeso e obesidade, além de dificuldades para dormir. O estudo indicou que, embora haja uma tendência de aumento de peso após o início do trabalho noturno, essa diferença não foi estatisticamente significativa. Fatores como a baixa prática de atividade física e hábitos alimentares inadequados podem estar contribuindo para o problema. É necessário realizar mais pesquisas com amostras maiores para confirmar esses resultados e investigar os mecanismos que ligam o trabalho noturno ao ganho de peso.

 

Biografia do Autor

Daniele dos Santos Cardozo, Grupo Hospitalar Conceição

Possui graduação em Nutrição pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2020). Atualmente é técnico em Nutrição do Hospital Nossa Senhora da Conceição. Tem experiência na área de produção de alimentos e assintência clínica / distribuição. Tem especialização em Nutrição Hospitalar.

Assiane Winck Schultz, Grupo Hospitalar Conceição

Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Feevale (2019).

Ana Beatriz Cauduro Harb, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

Graduada em nutrição pelo Centro Universitário Metodista IPA (1982), especialização em Nutrição em Clínica e em Alimentos pelo IPA. Professora da disciplina de Dietoterapia do Adulto e Supervisora de Estagio de Nutrição Terapêutica na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Mestre e Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas da UFRGS. Experiência na área de nutrição, com ênfase em nutrição clínica, atuando principalmente nos seguintes temas: obesidade, gordura corporal, manejo nutricional, transtornos alimentares, tratamento da obesidade, gestantes.

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Publicado

2024-12-20

Como Citar

DOS SANTOS CARDOZO, D.; WINCK SCHULTZ, A.; CAUDURO HARB, A. B. Estado nutricional e consumo alimentar de trabalhadores noturnos do setor de nutrição de um hospital de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Cadernos de Ensino e Pesquisa em Saúde, v. 4, n. 2, p. 56-73, 20 dez. 2024.